Pesquisadores fazem ponte entre cientistas e comunidade ao redor do edifício, localizado na Zona Sul de SP. Material recolhido em escavações ficará sob cuidados da universidade em Campinas (SP).
Por Gabriella Ramos, g1 Campinas e Região
Em busca de vestígios de repressão e resistência, uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi ao antigo DOI-Codi, um dos principais centros de tortura na ditadura militar, localizado na Zona Sul de São Paulo, para participar de escavações arqueológicas iniciadas na última semana.
O trabalho no edifício é dividido em três frentes: escavação, investigação forense e arqueologia pública, sendo a última desenvolvida pela equipe da professora Aline Carvalho, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (NEPAM) da Unicamp.
Além de acompanhar a busca por objetos e vestígios de DNA, os pesquisadores do laboratório de arqueologia da universidade têm a missão de fazer uma ponte entre os cientistas e a comunidade ao redor do centro de tortura, ajudando a resgatar lembranças do passado.
‘Garimpo’ de memórias
De acordo com Carvalho, o trabalho de arqueologia pública não ficará restrito à Vila Mariana, bairro onde o centro de tortura estava instalado. A busca por lembranças e conexões também pode ser ampliada às comunidades municipal, estadual e nacional.
“Às vezes, as pessoas nem lembram que possuem essas informações, mas quando elas veem algo material isso acaba trazendo a elas essas memórias, que permitem que a gente faça um trabalho de construção de novas narrativas”, afirma.
O “garimpo” de memórias feito pelas equipes, porém, começou muito antes das escavações. Em parceria com o Memorial da Resistência, pesquisadores da Unicamp iniciaram em 2020 a coleta de depoimentos de sobreviventes e parentes de vítimas da ditadura.
FOTO: Antiga sede do Doi-Codi na Zona Sul de São Paulo — Foto: Letícia Macedo/g1